A Universidade de Salamanca e Portugal

Uma constatação importante: pela documentação que se conserva no arquivo universitário, a Universidade de Salamanca, até 1640, nunca foi uma universidade propriamente estrangeira para os portugueses. A influência da Universidade de Salamanca ultrapassou em muito as fronteiras de Castela, atraindo numerosos estudantes e investigadores estrangeiros. Foram muitos os portugueses que nela cursaram, incluindo alguns dos mais brilhantes intelectuais portugueses do Renascimento.
De tal modo que, apesar da decadência em que se tinha sumido a universidade do Tormes no Barroco, os portugueses continuaram a frequentá-la com grande sucesso, e a nãoser por uma causa política de grande relevo, como foi a Restauração, a Universidade de Salamanca teria continuado a ser a preferida de entre as estrangeiras. Ainda assim, e até às reformas pombalinas (1772), nos períodos de relações políticas de amizade, todos os anos a frequentavam bastantes dezenas (quando não centenas) de alunos oriundos de Portugal.
A Universidade de Salamanca é universidade mais antiga da Iberia e a quarta fundada na Europa, posterior somente às universidades de Bolonha, Oxford e Paris.
A anexação de Portugal por parte de Filipe I significa o livre acesso dos portugueses às aulas salmantinas, acesso muito condicionado desde que a universidade portuguesa se instaura definitivamente em Coimbra, em 1537. Com efeito, tanto D. João III e D. Sebastião como as autoridades académicas coimbrãs procuraram,por diferentes meios, impedir a saída dos lusitanos para outras universidades, especialmente para a salmantina (a mais desejada por proximidade, prestígio, tolerância com os judeus, etc.
Os avatares políticos de Portugal como nacionalidade marca mas suas relações com a Universidade do Tormes. Ainda que se possa dizer que, até 1640, Salamanca nunca foi uma universidade estrangeira para os portugueses, a presença (mas sobretudo a ausência) deles nesta instituição dependeu quase exclusivamente desses avatares.
Parece confirmar-se a hipótese de que a imensa maioria dos escolares lusitanos em Salamanca eram de ascendência judia, sobretudo os estudantes de Medicina.
Entre 1550 e 1580, perto de uma vintena de portugueses exerceram como professores, alguns deles reconhecidíssimos catedráticos, entre os quais sobressai a conhecida tríade de civilistas que ocuparam a cátedra de Prima de Leis durante quase toda a metade do século XVI (Manuel da Costa, Aires Pinhel e Heitor Rodrigues).
Se juntarmos os escolares de Coimbra, de Évora e de Salamanca até 1640, é necessário admitir que Portugal possuiu uma das populações mais cultas da Europa ou, pelo menos, das mais universitárias.
Por todas estas razões, podemos enunciar um asserto de muita maior transcendência: a inegável influência da Universidade salmantina na cultura portuguesa. A 18 de abril de 2018, foi feita Membro-Honorário da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, de Portugal.
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