Regressado de férias, chegou o Xerife e convocou de emergência uma reunião do núcleo duro para avaliar os “estragos” na tarefa de reduzir Freamunde a “terra do Nunca”.  O ambiente, relativamente tenso, mas isso é habitual, estava perturbado pelo cansaço dos presentes, eles que tiveram de acorrer, nos últimos dias, a uma catrefada de eventos. Confessaram ter esgotado o discurso de tão repetitivo mas esperavam sair desta reunião de trabalho munidos de novos argumentos para progredir na “mudança necessária”. 

PAÇOS DE FERREIRA – O Xerife (X) não gostou de saber que os seus vereadores estavam “cansados”e lembrou-lhes que a estratégia do “milho amarelo” é para ter seguimento: marcar presença em todos os eventos, festas, procissões, o que houver; e quando não houver há que criar “novas oportunidades” para que o povo eleitor perceba e veja que a presença dos representantes do povo é essencial para garantir o “sucesso” da coisa. E não havendo festas, deveriam ter em consideração a possibilidade de marcarem presença nos funerais: 

  • X – Sei lá, vamos ao enterro, enviamos flores, no mínimo um cartão de condolências! É barato e mantém as contas certas. Estão-me a perceber? 
  • VP.VJS. É mesmo para ir? 
  • X – Eu não, mas vocês, claro. Ok, o Vinha que prepare uma carta-tipo. Nós temos que estar ao lado de quem precisa. 

Durante as férias tinha chegado aos ouvidos do Mestre a “disponibilidade financeira” de Júlio Morais (adiante VJM) que num evento de Pedaços de Nós esclareceu que “não faltaria dinheiro” para a cultura: 

  • X – Ouve lá, cuidado com a massa, nisso mando eu e só depois disso é que o Joaquim Sousa (VJS) passa o cheque. Ainda por cima anuncias isso em Freamunde, é por ser a tua terra? 

Mas também chegou outra missiva, desta vez com mais cócegas. Não é que Paulo Ferreira (VP) declarou, na presença dos festeiros, que as Sebastianas são as maiores festas do concelho? 

–  X – Ando eu aqui a dizer que isso é “terra do Nunca” e tu vais ao coração do crime e proclamas a vitória na Champios das Festas? Colocas em causa os reforços que demos às festas do Corpo de Deus, assim tão de repente? 

  • VP – Mas olhe que aquilo – senhor presidente – tem mesmo categoria… e ninguém os desanima; disse-me o Arménio (que é dos nossos) que há “lista de espera” para ser festeiro no próximo ano. Aquilo é como uma onda do mar, quando mexe leva tudo à frente! 
  • X – Mas a nós não! Já foi muito positivo deixarem de iluminar a Igreja – aquilo era um farol do poder daquela terra;
  • VP – Oh senhor presidente, olhe que não, iluminaram mesmo. E mais que isso também puseram luzes nas capelas de Santo António e São Sebastião..
  • X – Que desperdício de luz, meu Deus! Olhe lá, e a procissão ainda vai ser igual? Não acham que é comprida de mais? 
  • VP – Oh senhor presidente, é melhor não falar muito nisso e ainda menos mexer nisso! 
  • X –  Ai não, porquê meu Vice? 
  • VP – Está a ver o povo da Gandarela sem procissão? Sem foguetes? Olhe que depois não entramos lá, nem com a companhia do Toy! 
  • X – Ok, vamos analisar isso no futuro. 

VJM não sabia se seria oportuno repegar no assunto da “massa” mas lá botou faladura não fosse o X pensar que “só” pensa na terra dele, uma vez que não faltou a nenhuma iniciativa cultural no concelho nas férias da Autoridade: 

  • VJM – Eu falei da nossa disponibilidade para apoiar as associações, porque estava em Freamunde e referi-me à Pedaços de Nós, mas não disse que o dinheiro era para lá, é para todas as associações, não é isso? 

  • X – Isso é o que veremos. Muita atenção a isso e sobretudo a quem as dirige. Ouve lá o Pedro ainda manda naquilo? 
  • VJM – Claro, ele é o presidente e tem feito um grande trabalho 
  • X – Há alguma hipótese de eles mudarem de sede como foi com o Ensemble? 
  • VJM – Oh senhor presidente, encurta a procissão, sede mudada da Pedaços, o senhor quer que me matem na minha terra? 
  • X – Oh meu caro, claro que não; pergunto por perguntar, não sei se me entendes! 
  • VJM – por agora não! 
  • X – Ouve lá, não achas que o Pedro dava um bom vereador da Cultura em 2025? 
  • VJM – Como? E eu? 
  • X – Camarada, tu és insubstituível, não te esqueço nem te dispenso, és como o meu pneu sobressalente! Para onde eu for, tu vais. 
  • VJM – Então está bem. 
  • X – Já agora, nestes dias ouviram falar do Centro Cultural? 
  • VP – Estavam entretidos com as festas, mas qualquer dia vão aparecer por cá.
  • X – Deixa-os vir; oh VJS onde vamos buscar a massa para o CC? 
  • VJS – Ao sítio do costume, senhor presidente 
  • X – Mas se não houver massa, como fazemos? 
  • VJS – O mesmo do costume, senhor presidente: anunciamos a obra, o Vinha faz o favor de mandar um comunicado e pronto. 
  • X – Mas acha que isso chega? 
  • VJS – Tem chegado: fizemos isso no piso sintético do SCF  em Julho de 2021, nada foi feito e está tudo bem! 
  • X –  OK, mas atenção, dali pode surgir uma surpresa; não podemos confiar naquela gente. 
  • VP – Oh senhor presidente, deram-nos a maioria por três vezes seguidas! Devemos estar gratos 
  • X –  Recordo senhor vice que a minha legitimidade não pode estar em causa, eu sou presidente de todos os pacenses, logo não dependo dos votos dessa gente! 

Feita esta recordação, X sentou-se, encostou as homoplatas às costas da cadeira, respirou fundo e de voz tranquila e gesto sereno convidou os presentes para uma reflexão estratégica. Os presentes logo descobriram que dali vinha bomba e prepararam a alma. 

  • X- O que é que vocês acham se celebrarmos o São Sebastião aqui em Paços? É a sede do concelho, precisamos de revitalizar o comércio local, atrair turistas. Já repararam que no inverno a afluência à nossa cidade diminui consideravelmente? Ora acontece que o dia da festa deste santo é a 14 de Janeiro próximo e podíamos aproveitar esta lacuna no calendário já que eles só o fazem no verão! 

Não foi fácil retomar o diálogo. Os presentes entreolharam-se e começaram a pensar em abrir a boca depois de um explícito convite à fala: 

  • X – Vá lá, é uma hipótese que me ocorreu agora, para socialistas não há assuntos tabu! 
  • VP – Oh senhor presidente, mas disso não há memória! 
  • X – Pense no futuro, meu Vice 
  • VP – Mas como fazíamos isso? 
  • X – Vejo que de facto está cansado, então o meu Vice já se esqueceu do “sucesso” que foi o São Martinho em Novembro passado? 
  • VJM – Claro que foi, um mar de gente, parecia as sebastianas… 
  • X – E Frazão não fazia a festa no mesmo dia? 
  • VJS – Fez, eu passei o cheque do subsídio 
  • X – Então, está a ver, é seguir o método, nessa terra e nesse dia não fazem nada de nada, talvez só uma missa. 
  • VJM – Ponho então no plano de actividades para 2023? 
  • X – Considere, considere. Uma festa aberta a todos – os de lá não se poderão queixar. 
  • VP – E como justificamos a iniciativa? 
  • X – Tomei a liberdade de pensar nisso… 
  • VJS – Pois foi 
  • X – No meu segundo mandato e início do terceiro não viveu o nosso reino a peste do Covid? Haverá na história alguém mais do que eu que se tenha destacado na luta contra essa peste? Então não deve o povo lembrar no futuro o gigantesco trabalho feito no meu reinado? 
  • VP-VPM-VJS – Agora estamos a ver….. De facto é verdade. 
  • X – Como podem ver, não faltam motivos para colocar no nosso calendário a festa de São Sebastião em Janeiro para celebrar a nossa libertação da peste que nos envolveu. Tem de ser aqui, porque a sede do concelho é aqui. Fácil, não é? 
  • VP – Anunciamos isso agora? 
  • X – Também pensei nisso. O meu Vice vai ser eleito em Outubro presidente do “nosso” partido. Acho que com essa legitimidade, deve ser ele a anunciar a boa-nova. O povo precisa de se habituar a ouvir do Vice as boas notícias, no que deve ser acompanhado de todos os vereadores e o comunciador Vinha. 
  • VP-VJM-VJS A partir de agora só damos boas notícias, é isso!? 
  • X – Claro, a partir de agora só dão boas notícias! 
  • VP – E as más, quem fica com elas? 
  • X – Então eu não estou cá?! 
  • VP – Mas isso vai provocar desgaste na sua imagem! 
  • X – Que interessa isso, meu Vice. Em 2025 não sou candidato! 

Depois desta explicação, os senhores vereadores arrumaram os papéis, levantaram-se e regressaram aos seus gabinetes. As linhas mestras do futuro estão delineadas. É só esperar que o tempo passe. 

HAJA LUZ! 

 

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Texto: Do nosso associado www.pacoslook.pt