Lesboetismo – uma visão do país

Embora exista uma associação, o lisboetismo – “lesboetismo” na pronúncia local – não é mesma coisa que o centralismo. Traduzirá a atenção exagerada que é dada a Lisboa e envolvente, aos seus problemas, projetos e protagonistas. Isso é bem visível nas televisões e na comunicação social em geral. Mas tem tradução política, com consequências na distribuição geográfica do investimento público.
Já viram que a larga maioria dos comentadores, apresentadores e entrevistados de RTP, SIC, TVI e CMTV vivem em Lisboa e concelhos vizinhos (+Cascais), ou seja em apenas 0,5% do território nacional, onde moram 12,5% dos portugueses? Não será por acaso, pois, que as notícias e os debates são pouco representativos da diversidade do país. É por isso que são notícia uns arbustos a imitar brasões de “províncias ultramarinas”, o que pode ter interesse para o Restelo (e talvez alguns velhos do dito, a residir noutros lugares). E que dizer da atenção dedicada às eleições autárquicas em Lisboa? Parece que é disso que depende a política nacional. Não será também excessivo o silêncio sobre os clubes de fora de Lisboa (além do FCP), que alimenta a persistência de “três grandes”?
Há em tudo isto responsabilidade do emissor. Mas, tal como nas compras, em que a escolha do consumidor determina o sucesso das lojas e dos produtos, somos nós que fazemos o sucesso de televisões e jornais. O que obriga a perguntarmo-nos o que explicará que, desde lugares afastados de Lisboa, tenhamos interesse nas suas questões locais. Passo da questão, ao apelo: para lermos e vermos mais jornais e televisões locais e regionais e termos mais atenção pelo que nos é mais próximo. Penso que sobreviveremos sem a opinião geograficamente tendenciosa e notícias sobre Alfama, o Saldanha e Alcabideche!
Texto: José Alberto Rio Fernandes – texto publicado com permissão do autor e editado originalmente no JN – Jornal de Noticias – edição do dia 10 de Março.
Foto: http://www.lisbonne-idee.pt/p2245-praca-marques-pombal-onde-circula-lisboa.html