Desideologização – política sem brio e classe

Neste meu texto, caros leitores, abordo um flagelo invisível e que fez e faz com
que a política tenha perdido o brio e a classe e, por outro lado, fez e faz com que a política tenha tornado os seus atores principais (pessoas e partidos) em meros clubes e agentes desportivos, em que cada um não defende uma ideologia nem um programa para abraçar uma camisola e um fanatismo doentio que, muitas vezes, têm escondidos outro tipo de interesses que não só um aparente “amor à camisola”, falo da desideologização.

Além de militar num partido, estudo também Ciência Política e Relações
Internacionais, o que me deixa ainda mais apreensivo para o tema em questão. Mencionei previamente que a desideologização é um flagelo porque, na minha ótica, não ter uma ideologia que nos conduza na ação política é grave e torna-nos objetos brincáveis da circunstância.

Uma ideologia é uma reunião de convicções e formas de pensamento que
nos guia na ação, principalmente política. Ora, isto é grave porquê? Perguntam… É grave pois o excesso de pragmatismo (e fala alguém maioritariamente pragmático) fomenta a falta de literacia e de cultura política.

A desideologização está a levar-nos à não fomentação da leitura, de não sabermos quais os modelos de estado, dos modelos de regime, entre tantos outros, e se não soubermos nada disto, como podemos selecionar as nossas preferências sobre justamente estas questões; como podemos estar devidamentemunidos para o debate público?..

Virando a página sem sair do mesmo local, e pegando no que mencionei na
introdução, os partidos não podem tornar-se clubes desportivos. Além do facto de se
exigir racionalidade e pouca emoção, os partidos são responsáveis por incutir a cultura
política.

Mas saindo um pouco desta teoria toda, vamos imaginar um caso real.
Imaginemos um indivíduo que em teoria aplica-se na causa pública mas (atentem neste
importante mas) está tão viciado e depende tanto do partido e do dinheiro dos
contribuintes (sim, pois todos pagamos os partidos. E sim, é uma coisa necessária, mas
não para quem se quer aproveitar do sistema) que, sabendo que não ganhará nada com o
seu partido (vou-lhe chamar partido “A”), “emigra” para o partido B.

A minha perguntaserá esta, será isto saudável para a vida pública? É este tipo de pessoas quem nós queremos? Queremos alguém que muda de ideologia como, e passo a expressão, muda de roupa? Se hipoteticamente fossem abordados por alguém que vos respondesse“Ninguém quer saber disso das ideologias, quero é estar com os grandes”, à pergunta “E mudam assim de Sociais-Democratas para Socialistas?”, como reagiriam?

Isto tudo paradizer que a desideologização leva à falta de literacia, a falta de literacia leva à falta de informação e, por conseguinte, a informação é poder. É o poder de conseguirmos exigir umas condições melhores de vida e um dia-a-dia mais digno. Verem uma cara num outdoor, num cartaz ou no que quer que seja, identificado com o partido “A” e quatro anos volvidos ser identificado com o partido “B” não causa uma certa confusão?

Dir-me-ão, que o que conta são as pessoas, mas então, e as ideias? O Programa? A ideologia?
Colocando as coisas nestes termos, votariam em alguém próximo mesmo sendo
Comunista ou Fascista? Continuariam a responder que o que conta são só as pessoas?

O meu partido, local e nacional, foi abandonado por muitas pessoas que, apenas
por sede de poder, abandonaram a causa e traíram os pergaminhos do partido. O partido
foi trocado por outros apenas porque, numa fase menos boa, o partido já não servia para
satisfazer os caprichos pessoais. Mas sabem o que faz a incultura e inteligência política?

É não se saber que temos um sistema político muito cíclico e que, um dia julgamos estar
num pedestal, mas no outro estamos tão fundo que já ninguém nos conhece. É a lei da
política…e da vida.

Em suma, e como centrista que sou, temos que dosear bem tudo na vida e na
política. Confesso que me mete confusão os “suprassumos da Sapiência” que sabem a
teoria toda e mais alguma mas desconhecem a realidade dura do nosso país. Mete-me
confusão que os Senhores Doutores da Foz, do Chiado, de Cascais, entre tantos outros
(sem qualquer preconceito para com tais locais, admito que são bem bonitos até), opinem sobre tudo e mais alguma coisa sem sequer terem visitado uma aldeia do interior ou sem terem estado e vivenciado os reais problemas.

Contudo, caríssimos leitores, a desideologização desencadeia muitos problemas que depois são muito complicados de serem resolvidos e que chocam diretamente com situações do nosso quotidiano. Se a classe política nos quer desarmar, está nas nossas mãos evitá-lo.