Guterres – um dos nossos melhores

A geopolítica explica-nos todos os dias que vivemos num mundo cada vez mais complexo e desigual, a globalização mostra-nos no ecran do telemóvel os acontecimentos em directo em todo o mundo, coloca-nos em conversa com ilustres desconhecidos ao mesmo tempo que esquecemos o nome dos nossos vizinhos por se tornarem raras as conversas de circunstância que amenizavam o ambiente.
Um medo difuso caracteriza a cautela do diálogo – e talvez seja esta a razão da desconfiança metódica com que encaramos  o dia-a-dia das pequenas decisões. E também das grandes.
Uma das mais importante foi a eleição de António Guterres, por unanimidade, para presidir às Nações Unidas. Pela primeira vez na organização, 173 Estados ali representados, reconheceram neste humanista português a capacidade de a todos representar num clima de crescente polarização e num mundo mais desigual, provavelmente mais injusto, embora mais para uns que para outros.
De russos a chineses, da África a Cuba e Venezuela todos concordaram em ter Guterres como secretário-geral. No último acto eleitoral concorreram a este lugar seis personalidades, desta vez apenas um.
O que terá unido Putin, a Biden? Bolsonaro a Johnson? Maduro a Erdogan. E tantos outros como a nomenclatura chinesa e a árabe? Não sabemos, apenas notamos e sublinhamos que só um homem formidável conseguiria este resultado.
Contudo, e para mágoa nossa, fica a lembrança que foi primeiro-ministro de Portugal e que, na despedida, deixou cair o lamento de estar a sair “de um lodaçal” político do qual necessitava de se libertar.