Senhora de Fátima em Lviv, na Ucrânia

«A VIRGEM MARIA AVISOU DO QUE IRIA ACONTECER SE A RÚSSIA NÃO SE CONVERTESSE. IRIA ESPALHAR O MAL PELO MUNDO»

– proclamou o padre católico Andryi, ao receber em Lviv uma réplica da Virgem de Fátima.
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Às duas em ponto, o sol brilhava nos céus de Lviv. Ainda não é a tão esperada primavera, mas são os primeiros assomos de uma nova estação, que se espera derreta a neve, acalme o frio e traga um vento menos cortante do que aquele que, esta tarde, varria o exterior da Basílica de S. Jorge. O templo é curioso, da raiz cristã de ambos, convivem católicos e ortodoxos. As imagens refletem a origem única das confissões. Depois da missa, à uma da tarde, mais de duas mil pessoas, sobretudo idosos, mulheres e crianças esperavam com ansiedade a chegada da Virgem Maria. O santuário de Fátima enviou para a Ucrânia uma réplica da imagem que está na capelinha das aparições. Aterrou esta quarta-feira em Varsóvia, na Polónia, e nas últimas 24 horas fez o percurso até à cidade mais ocidental da Ucrânia. Aqui, está a maior comunidade católica de todo o país. Lviv, a cidade, já pertenceu a vários países e a diferentes impérios. Antes da URSS, Lviv era uma cidade polaca. Não é, por isso, de estranhar que mesmo um século depois estes ucranianos se mantenham fiéis ao cristianismo católico apostólico romano, e não à Igreja Ortodoxa que é a maior confissão religiosa do país.
A missa que antecedeu a chegada da imagem da Virgem de Fátima juntou religiosos católicos e ortodoxos, numa comunhão harmoniosa entre cristãos.
Tal como anunciado, com precisão exemplar, quanto os sinos anunciaram o bater das duas da tarde (meio-dia em Portugal), a imagem da Virgem Maria chegou dentro de uma carrinha e parou no átrio exterior do templo. Quatro sacerdotes carregaram a imagem nos ombros. Na base do andor, flores. Muitos ajoelharam-se à passagem de Maria. Noutros rostos, lágrimas, de alegria, de tristeza, de emoção, olhos postos na virgem. A procissão seguiu lenta, passo a passo. Atrás da imagem os clérigos, depois o povo que se juntou, um mar de cabeças, faz lembrar as imagens do 13 de maio, numa escala pequena. Os mesmos gestos de devoção, gente com flores, rosas brancas, e as crianças, muitas, sorrindo encantadas com todo o cerimonial. Maria entra, finalmente, no templo – tem um lugar reservado mesmo no meio, uma espécie de altar central. Pode ser vista por todos e todos a olham: amarelas e azuis, as cores da bandeira da Ucrânia.
Natalya, 22 anos, católica, tremia mas não era do frio. Estava emocionada, mal conseguia juntar palavras: «Estou muito feliz por receber a imagem da Virgem Maria na minha cidade natal. Nunca tinha tido a possibilidade de a ver, é uma grande alegria para mim e para todos». Natalya ainda está em choque com o bombardeamento russo a um teatro em Mariupol, que albergava crianças e mulheres. A esta hora, em Lviv, ainda não se sabia que grande parte dos que se escondiam na cave do edifício tinham sobrevivido. «Temos de rezar pela paz, como fez a Virgem Maria», diz Natalya.
O padre católico Andryi concorda. «A Virgem Maria avisou-nos do que iria acontecer se a Rússia não se convertesse. Iria espalhar o mal pelo mundo. E isso está a acontecer». A voz grave, séria e pausada do padre, de 35 anos, torna-se ainda mais dura: «Os governos europeus, depois da segunda guerra mundial, falharam na tentativa de construir a paz». A penitência deste pecado está a chegar agora. «E, nos últimos 14 anos, fecharam os olhos ao que se passou na Síria e na Ucrânia. A Europa falhou nas questões da moral, os governos permitiram a corrupção e a Rússia, agora, assusta o mundo inteiro».
Durante um mês, a imagem da Virgem Maria ficará no seu lugar de honra, no lugar mais central da Igreja de S. Jorge, em Lviv. A senhora da paz chega em tempo de guerra. Os católicos, e os cristãos, acreditam que talvez possa ser um sinal de que pode estar para breve um tratado, um acordo, um cessar-fogo. Ainda que a Rússia «não se tenha convertido», como pediu Maria e, portanto, recorda o Padre Andryi, vá continuar a «espalhar o mal» por outras nações.
Lviv, Ucrânia, 20 de Março de 2022
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A réplica da Virgem de Fátima chegou a Lviv com a Primavera, e muitos esperam que a réplica faça um milagre ainda maior do que o original…
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Por Alfredo Barroso, in facebook