O PREC da democracia vivido na primeira pessoa

No 11 de Março de 1975 estava eu a liderar a luta contra o poder dos comunistas no liceu de Viana, em representação da JS. Tivemos muita confusão e porrada, discursos de horas, ameaças – havia situações que até a vida podia correr perigo.

Nesse dia, estava a jogar bilhar no Carambola e passam os trabalhadores dos estaleiros a gritar “fascista escuta o pobo está em luta”. E eu vim logo para a sede do PS onde recebemos informações da direção de Lisboa para apoiarmos o movimento e para não ficarmos de fora, pois não se sabia bem o que era aquilo, mas tínhamos de estar lá.

Fomos para a manif da Praça da República tentando eu subir acompanhando o Oliveira e Silva (grande líder do PS em Viana) à varanda do Viana Taurino. Fomos empurrados pelas escadas pelos comunistas e só eles é que falaram à multidão.

A seguir fizemos um comunicado contra os comunistas e a favor do 11 de Março e da Democracia, à socialista daqueles tempos, tentando encontrar os caminhos difíceis para a democracia pluralista.

A seguir, a multidão foi por alí fora e rebentou com as sedes do PSD e do CDS. Fomos lá no fim, dar um abraço de solidariedade democrática aos dirigentes desses partidos e ainda trouxe um cadeirão, que estava na rua, para a sede do PS.

O 11 de Março de 1975 com as nacionalizações e as ocupações e o caos do Prec Comunista, destruiu boas empresas e os grupos económicos. No essencial prejudicou tanto a economia como todo o famigerado regime salazarista. Talvez fosse por isso que a Espanha acabou por ultrapassar Portugal, no seu desenvolvimento económico e social, pois não teve Prec. E até  parece que o tem mais hoje do que na transição da ditadura para a democracia.

Ricardo Gonçalves, ex-deputado pelo PS na Assembleia da República

Foto- créditos: https://www.transicaopolitica.pt/transicao-politica-conquistas-de-abril/