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Dom Diogo de Sousa e o cutelo municipal - Região do Norte

Dom Diogo de Sousa e o cutelo municipal

No sábado passado, a Câmara Municipal de Braga inaugurou um monumento (?) a um dos maiores Arcebispos da Roma Portuguesa, entre o Campo da Vinha (ou Praça Conde de Agrolongo) e Rua dos Capelistas.

O poderoso, ao qual não faltam meios humanos e técnicos, e omnipresente Gabinete de Comunicação Social da Câmara Municipal de Braga fez a costumeira notícia, com uma foto de Ricardo Rio e de D. Jorge Ortiga, declarações do edil (Presidente do Município) e do Vereador do Urbanismo, das quais vários meios de comunicação social  — sem meios para ir ao local — fizeram “copy” (copiar) e “paste (colar).

O Gabinete — composto por uma dezena de pessoas que os bracarenses suportam, entre escrita, web e fotografia — sabe da penúria em que a comunicação social bracarense vive. Sabe que tudo o que for enviado é alvo de “copy” e “paste”.

  1. Diogo de Sousa é um figura maior de Braga. Inspirado pelas ideias renascentistas com que contactou nas viagens a Roma, o arcebispo de Braga na primeira metade do século XVI alterou a imagem da cidade, com novas praças fora das muralhas medievais: a Praça da República, a Avenida Central, o Largo Carlos Amarante, o Campo das Carvalheiras, o Campo das Hortas e a Praça Conde de Agrolongo ou Campo da Vinha. Todos esses espaços foram idealizados por D. Diogo de Sousa, arcebispo de Braga entre 1505 e 1532.

Foi do seguinte modo que tudo sucedeu. O Gabinete Municipal de propaganda — já justifico o epíteto —  enviou este texto para a comunicação social (cf. www.cm-braga.pt/pt/0201/home/noticias/ item/item-1-12400).

O mesmo texto, quase sem tirar nem pôr, foi repetido — sim, alguns jornais são repetidores ou tripés de microfone —  por vários meios de comunicação social. A saber, https://oamarense.pt/braga-inaugura-monumento-a-d-diogo-de-sousa-o-arcebispo-que-abriu-a-cidade-ao-mundo/ ou https://semanariov.pt/2021/06/19/monumento-evocativo-a-d-diogo-de-sousa-inaugurado-em-braga/ ou https://bragatv.pt/braga-homenageia-d-diogo-de-sousa-com-monumento-porta-aberta/, ou https://www.rum.pt/news/esta-inaugurado-o-monumento-que-evoca-o-arcebispo-d-diogo-de-sousa e https://vieiradominhotv.sapo.pt/braga-evoca-arcebispo-que-abriu-a-cidade-ao-mundo/. Entre outros. Estes são apenas exemplos.

E que vemos, o Gabinete de Propaganda da Câmara Municipal de Braga foi incompetente, não soube ser um instrumento de comunicação. Então o seu chefe, Ricardo Rio, convida o Arcebispo de Braga para a inauguração daquilo a que alguns chamam um cutelo e a “notícia” não inclui uma palavrinha de Dom Jorge Ortiga?

Foi um acto de censura ao Primaz das Espanhas ou foi descuido? É propaganda e lambe-botismo ao Chefe. Não é a comunicação que os bracarenses merecem porque a pagam com língua de palmo.

É descuido ou falta de espaço? Não, até porque, no texto oficial, há espaço para uma figura secundária, o Vereador do urbanismo. Para o Arcebispo — acusado se ser “unha e carne” com Ricardo Rio — não houve espaço para uma linha na propaganda do Município. O cutelo da censura abateu-se sobre o sucessor de Dom Diogo de Sousa. Mais nada.

É verdade. Afinal, o Arcebispo falou… Se nos dermos ao trabalho de consultar os jornais que enviaram jornalistas ao local, verificamos que o sucessor de Dom Diogo de Sousa falou e até foi simpático com o edil. Daqui se comprova que o Gabinete da propaganda foi incompetente. Consultem-se as edições de https://correiodominho.pt/noticias/cidade-presta-tributo-justissimo-a-arcebispo-d-diogo-de-sousa/131548ou de https://diariodominho.sapo.pt/2021/06/19/braga-fez-justica-a-d-diogo-de-sousa-arcebispo-que-abriu-portas-e-mentalidades-da-cidade/.

O sucessor de Dom Diogo de Sousa não merecia este cutelo a cortar as suas declarações, num momento que Ricardo Rio assinalou como maior.

Mas há mais incompetência. Face à polémica que o cutelo provoca em muitos bracarenses, custava alguma coisa aos escrivas da propaganda municipal contextualizar a propaganda?

O contexto aprende-se no primeiro ano de comunicação social como essencial para o (e)leitor perceber o que se passa. Um jornalista ou propagandista deve escrever para quem mal sabe ler e para quem tem um canudo universitário: deve ser claro, simples, directo e objectivo. Mas não foi isso que aconteceu com aquele gabinete de Propaganda.

Esqueceram-se de explicar aos bracarenses e aos jornais sem meios para ir à festa o significado do “cutelo”.

É que o monumento, no cruzamento entre a Rua dos Capelistas e a Rua Dr. Justino Cruz, no Campo da Vinha, evoca a personalidade religiosa que, através da sua “porta visionária”, abriu Braga ao mundo.

Bastava ter um pouco de trabalho e ler a memória descritiva da vencedora do concurso. Nem era preciso procurar muito e gastar tanto tempo, chegava ler www.comumonline.com/2020/10/monumento-evocativo-a-d-diogo-de-sousa-simboliza-abertura-de-braga-ao-mundo/.

Esta ‘Porta Aberta’ — e não um cutelo — , foi apresentada pelo gabinete de arquitectura ‘Sequeira Arquitectos’, vencedora do concurso de ideias para a criação de um monumento evocativo ao Arcebispo D. Diogo de Sousa.

“D. Diogo de Sousa, ao passar por Braga, engrandeceu esta Cidade. Esta ‘porta’ representa a sua visão estratégica que, através da sua passagem por Braga, deixou obras de extrema importância, que ainda hoje marcam o ADN desta ilustre Cidade”, lê-se na memória descritiva do projecto, lembrando que a porta “simboliza a diferença que cada um pode fazer ao passar num determinado local”.

Ou então, o que dá conta de muita preguiça, iam ler o que eles próprios escreveram em https://www.cm-braga.pt/pt/0201/home/noticias/item/item-1-11443.

Eu não quero acreditar que tenha sido Ricardo Rio a dar ordens para calar o Arcebispo. Se não foi, deve dar-lhes um puxão de orelhas, por ignorância, incompetência, desrespeito à Igreja de Braga e preguiça.

Costa Guimarães, jornalista