A Política no Confessionário (IV)

A política na saúde

A “Organização Mundial de Saúde” (OMS) define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades”.

A saúde passou, agora, a ser mais um valor da comunidade em comunhão com o indivíduo. É um direito fundamental da Humanidade, que deve ser assegurado sem distinção de raça, de religião, ideologia política ou condição sócio-económica. A saúde é, portanto, um valor coletivo, um bem de todos, devendo cada um gozá-la individualmente, sem prejuízo de outrem e, solidariamente, com todos.

No passado (ainda em 1960), a saúde era definida como a perfeição morfológica, acompanhada da harmonia funcional, da integridade dos órgãos e aparelhos, do bom desempenho das funções vitais; era o vigor físico e o equilíbrio mental, apenas considerados em termos da pessoa como um indivíduo. Hoje, ela passou a ser considerada sob outro plano ou dimensão; saiu do indivídual para ser vista, também, como uma relação do indivíduo com o trabalho e com a interação e interseção comunitária.

O lado psíquico da saúde cresceu de importância na época agitada em que vive o mundo atual. Inquietude, pressa, ansiedade, incerteza, indagações perante os fatos da vida, particularmente da vida económica, agitação, desgaste constante de energias mentais, etc., levam o indivíduo ao cansaço físico e a sofrimentos psicossomáticos.

É preciso, porém, para o perfeito equilíbrio neuro-psíquico, que o homem esteja bem adaptado às condições de vida, dentro do ambiente em que vive; que haja entendimento, equilíbrio, tolerância, compreensão dos indivíduos entre si, pois a “Mente e o Corpo Sãos” não permanecerão sadios, por muito tempo, em ambiente agitado, adverso, tumultuoso e intranquilo.

A necessidade de higiene mental é universal; é para todos. Para os efeitos da vida económica e as reclamações da vida social, a noção de saúde mental é a de respostas psíquicas ajustadas, de boa adaptação, de “relações humanas” satisfatórias na família, no trabalho e na comunidade.

A saúde representa, por isto, um bem-estar social. A “saúde social (bem-estar social) é aquela resposta ou ajustamento às exigências do meio, e depende, fundamentalmente, das condições sócio-económicas do agrupamento humano onde se insere, da distribuição da riqueza circulante, da oportunidade que se oferece ao indivíduo para que tome parte no esforço organizado da comunidade. A “saúde social” é mais coletiva que individual. Onde há miséria, fome e ignorância; onde é grande a competição da luta pela vida; onde há compreensão entre os homens; onde o desenvolvimento e a economia não oferecem oportunidades a todos; onde o clima político sufoca os direitos essenciais da pessoa humana e a liberdade do homem foi suprimida para que o domínio de alguns se exerça sobre a comunidade; enfim, aí, onde não há bem-estar social, a saúde física e a saúde mental descompensam e são afetadas com repercussões a longo tempo.

O homem é um ser social, por excelência; não pode viver só, por incapacidade.

A “saúde social” traduz-se na alegria de viver, no bem-estar físico, psíquico e económico do indivíduo, relacionado a sua família e ao meio em que vive. Ela não releva daquilo que se mostra possuir, na conta bancária, no gozo individual da propriedade ou no privilégio de prerrogativas político-sociais, apenas para citar alguns exomplos”.

O que expressa a “saúde social” é o comportamento ajustado do indivíduo dentro da comunidade; é a aceitação e o exercício corretos dos padrões de vida adotados por esta; é a eficiência do regulador, do legislador e sobretudo do político. É urgente o aparecimento de políticos, de legisladores e reguladores, com valores morais, éticos e sentido de responsabilidade social. Um país, além da sua própria população e da suas caraterísticas geográficas, é o espelho destes três elementos (político, legislador, regulador), é o reflexo da sua conduta ética, do seu perfil, dos seus valores morais e sociais, ancestrais ou inovadores, e, sobretudo na sensibilidade em manter os direitos essenciais da pessoa humana e a sua liberdade. A manutenção/supressão da liberdade humana, a segurança, o conforto, o relaxamento positivo e a saúde social dependem, de forma muito intensa, da seriedade, do discernimento, do bom senso e das decisões deste trio que nos governa, que por nossa escolha legisla, e que tem, obrigatoriamente, de regular sem estrangular.

É extremamente importante que o indivíduo enquanto ator sócio-político esteja bem integrado na ordem e no esforço organizado da comunidade e sinta a necessidade de resolver os problemas fundamentais do seu povo; é a participação inteligente e interessada no bem-estar físico-social e psíquico, procurando encontrar soluções para as necessidades sociais, de todos os cidadãos; é manter boas relações humanas; é ser livre; é ser feliz; é ser consciente de suas responsabilidades; é sentir a necessidade de governar bem, legislar bem e regular bem.

Em pleno Séc. XXI, de uma noção antiga de saúde, estática e formal, chega-se, agora, a uma outra noção de saúde – dinâmico-social sócio-económica como resposta do indivíduo às condições do meio onde vive, resposta esta que deve ser analisada sob três planos ou dimensões: saúde física, saúde mental e saúde social.

E quem governa, legisla ou regula, é hoje em dia, sem qualquer dúvida, e desculpar-me-ão a inovação terminológica, o novo pre médico da sociedade.

Se é nosso objetivo viver com saúde, não podemos demitir-nos de escolher bem quem nos vai tratar.

Nuno Barros, Farmacêutico, Farmácia Meixomil